Quem são Simones?
A priori as Simones são apresentadas por duas mulheres que viveram em uma mesma época, cercada de sonhos, projetos inusitados e mais, enraizadas numa sociedade onde a mulher era tratada com descaso e até como um ser inferior ao homem.
A primeira a ser mencionada é Simone Simone Weil que, nasceu em Paris no dia 3 de fevereiro de 1909. Oriunda de uma família judaica, todavia foi educada agnosticamente. A sua infância é marcada pelo seu amor pelos pobres e os que sofrem. Tem cinco anos de idade quando começa a I Guerra Mundial, em 1914. Dotada de uma inteligência notável, depressa isso se reflete no seu sucesso escolar. Estudou no liceu Dury onde fez um ano de Filosofia aprendendo com Le Senne. No liceu Henri-IV, onde estuda com Alain que incutia nos seus alunos o gosto do belo, a admiração e o entusiasmo pelas ideias e o mundo grego, preparou-se para frequentar a Escola Normal Superior, onde entrou com dezenove anos de idade, no ano de 1928.
Com 22 anos passa no exame de Agregação em Filosofia na Escola Normal Superior em 1931. Torna-se professora de Liceu primeiro em Le Puy, onde mais uma vez se faz sentir o seu amor pelos que sofriam. Assim solidariza-se com os operários que eram obrigados a duros trabalhos, como partir pedra, para receberem o subsídio de desemprego. Esta solidariedade não é só teórica ou sentimental, ganha corpo na prática, uma vez que para viver Simone passou a contentar-se com a soma correspondente ao subsídio de desemprego, distribuindo para os outros que tinha a mais dos seus recursos. A solidariedade prática de Simone Weil tornou-se ainda mais efetiva quando, em 1934, se torna operária de uma fábrica e experimenta o que é passar fome, o cansaço, a desumanidade de alguns responsáveis e ainda a angústia de estar desempregada. Nota-se que é possível encontrar essas características em muitas “Marias” de nosso século XXI. Esta experiência, ainda que não muito longa, marcará para sempre o resto da sua breve vida. Quando em 1936, estala a guerra em Espanha, parte para frente em Barcelona, mas um acidente causado devido à sua inexperiência faz com que seja imediatamente evacuada. Ao longo da sua vida são três os contatos com o catolicismo, como confessa na sua autobiografia espiritual, que marcam e alteram a sua relação com Deus e com os outros. O primeiro desses contatos tem lugar numa aldeia de Portugal, quando Simone Weil visitou o país na companhia de seus pais. Simone confessa chocada com a miséria que viu, que: «(…) Aí tive, repentinamente, a certeza de que o cristianismo é, por excelência, a religião dos escravos, que os escravos não podem senão aderir a ela, e eu entre eles».
O segundo contato deu-se no ano de 1937, quando passa dois dias maravilhosos em Assis. Na capela de Santa Maria degli Angeli, pela primeira vez na sua vida alguma coisa de mais forte do que ela a obrigou a ajoelhar-se. A terceira aproximação ocorre em 1938, quando passa dez dias em Solesmes, do Domingos de Ramos até à terça-feira de Páscoa. Segue todas as celebrações. Tinha por essa altura imensa e profundas dores de cabeça, mas confessa que esta experiência lhe permitiu, por analogia, «compreender melhor a possibilidade de amor do amor divino através da infelicidade. Está visto que, no decurso destes ofícios, o pensamento da Paixão de Cristo entrou em mim de vez».
Em 1939 tem início a II Guerra Mundial, mas Simone Weil, que era judia, só abandonará Paris em 1940, quando os alemães entram na cidade. Ela e a família refugiam-se em Marselha, onde passa a colaborar com a revista “Cahiers du Sud” sob o pseudónimo de Emile Novis. É também em Marselha que conhece o padre Joseph-Marie Ferrin, que se torna seu amigo e seu confidente. A 14 de maio de 1942, poucos meses depois de o sacerdote ser destacado para Montpellier, Simone Weil vê-se forçada a partir com os pais para os Estados Unidos da América, fixando-se em Nova Iorque. Manteve o seu amor pelos que mais sofriam. Assim, passou a frequentar o bairro do Harlem, onde frequentava aos domingos uma igreja Batista, e onde a única pessoa branca era ela. Sempre desejou ir para Londres para estar mais próxima de França. Nos finais de novembro de 1942 chega à capital britânica, cidade que lhe causa uma “visceral” decepção. Animava-a conseguir uma missão difícil e penosa, sacrificando-se para salvar outras vidas. Simone Weil trabalha até à exaustão, dorme mal e come ainda pior. Em abril de 1943 é internada no Hospital de Middlesex porque tinha contraído tuberculose. Estava muito debilitada e, como tal, não conseguiu ficar curada, mas como desejava estar no campo foi transferida para o sanatório de Ashford, onde morreu no dia 24 de agosto de 1943, com 34 anos.
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